Até na década perdida de 80 a Bahia cresceu
Até na década perdida de 80 a Bahia cresceu
Brasil | No capítulo da Bahia inserido no livro O Nordeste que deu certo, de minha autoria, um retrato impressionante do impulso da sua economia a partir da instalação do polo petroquimico de Camaçari, isca que fez o Estado, mesmo na chamada década perdida dos anos 80, crescer independente da paralisação do resto do País. Por Jornalista Magno Martins
Com a chegada da indústria pesada, Salvador também atraiu grandes investimentos. A Bahia virou, definitivamente, na vitrine econômica do Nordeste e ganhou mais notabilidade na política de exportação de produtos para a Argentina com o fechamento do acordo do Mercosul. Outros polos desse braço industrial foram criados
Camaçari passou a produzir metade das matérias primas de todos os artefatos de plásticos. Recebeu investimentos de U$ 6 bilhões, gerou mais de 30 mil empregos e faturou quase 5 bilhões de dólares, dando uma contribuição de 4,2% ao PIB brasileiro. Veja a seguir.
O salto de Camaçari
A Bahia de Castro Alves, Rui Barbosa e Jorge Amado, filhos mais ilustres e conhecidos em todo o mundo, não tem apenas a beleza que fascina o turista. Além da poesia, do folclore e da efervescência negra, o berço da descoberta do Brasil foi pioneiro no processo de industrialização pesada no Nordeste, nos anos 50, com a implantação da refinaria de Mataripe, e em seguida do Complexo Petroquímico de Camaçari, responsável, no ano passado, por um faturamento de US$ 4,2 bilhões, o equivalente a 1,2% do PIB.
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Em Camaçari se produz a metade das matérias-primas de todos os artefatos de plásticos disponíveis do País, e das mãos dos seus 27 mil trabalhadores saem produtos que geram a riqueza baiana, hoje a sexta no ranking econômico nacional, com um PIB de US$ 25 bilhões. O Polo Petroquímico, que marca uma das mudanças mais notáveis na nova paisagem nordestina, recebeu investimentos de US$ 6 bilhões e atraiu 36 empresas – entre elas multinacionais como a Dow Chemical e a Du Pont, e grandes corporações brasileiras, como a Monteiro Aranha, o Grupo Bradesco e o Grupo Ultra, além da estatal Petroquisa, a empresa número um do Nordeste.
Para se ter uma ideia da importância econômica da Bahia basta dizer que há em Salvador o maior grupo privado brasileiro pelo critério de faturamento – a holding Odebrecht, com um caixa que movimenta US$ 2,6 bilhões. Está na Bahia também a Caraíba Metais, um dos maiores complexos de cobre do País.
Além dos antigos polos agrícolas e industriais, como os da refinaria e demais unidades da Petrobras, da siderurgia, da petroquímica e da metalurgia, a Bahia assiste, agora, à agregação de mais um polo: o de celulose. O Grupo Bahia Sul Celulose, uma ramificação da Vale do Rio Doce, investe US$ 2,2 bilhões na implantação de dois megaprojetos de produção de papel. A meta é o mercado internacional.
A ampliação do Complexo Petroquímico de Camaçari, associada à expansão da Refinaria Mataripe, representará, nos próximos anos, investimentos superiores a US$ 3 bilhões. Estudos da Secretaria de Indústria e Comércio da Bahia indicam que o Estado, que hoje tem uma participação de 5% do PIB nacional, deverá saltar, ao longo da década de 90, do 6º para o 3º ou 4º lugar no ranking nacional.
“Está havendo uma integração dinâmica da economia baiana”, constata o vice-governador e secretário de Indústria e Comércio, Paulo Souto, para quem a integração econômica busca, no fundo, a integração regional através do desenvolvimento das cidades médias e de uma série de investimentos na infraestrutura e em serviços básicos.
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A antiga estrutura da Bahia, concentrada na produção do setor primário, mudou. Em 60, o setor primário representava 40% do PIB, mas hoje caiu para 10%. Enquanto isso, o setor secundário evoluiu, no mesmo período, de 12% para 35% do produto de toda a economia baiana.
Novas fronteiras
Concentrada anteriormente em volta da Grande Salvador, a industrialização baiana se expandiu para outras fronteiras, como Barreiras, no oeste, que tem um parque industrial diversificado, com destaque para a produção de soja. Jequié (polo têxtil), Juazeiro (agroindústria), Ilhéus (cacau), Teixeira de Freitas (extração mineral, fruticultura e agora celulose), Vitória da Conquista (diversificado) e por fim Feira de Santana, o maior centro comercial do Interior.
A Bahia é um dos maiores exportadores de frutas tropicais em função da criação e exploração de importantes polos de irrigação nas diversas bacias hidrográficas do Estado. Em Juazeiro, no sertão, divisa com Pernambuco, já existe industrialização de culturas nobres, notadamente na área frutícola, com destaque para manga, melão e uva.
A indústria do futuro na Bahia, porém, é a do turismo, onde o Governo Estadual investe forte, atraindo a iniciativa privada. “A prioridade conferida pelo Governo ao turismo decorre de sua expressiva capacidade geradora de empregos, de grande importância para o desenvolvimento social do Estado”, atesta Paulo Souto.
Segundo ele, a Bahia, por deter a produção de uma série de bens intermediários, e um mercado de bens finais que se expande a partir dos processos de investimentos em curso, notadamente no setor de turismo, desenvolve uma estratégia agressiva de verticalização da base produtiva. “Isso nos permitirá uma integração dinâmica através da produção de bens finais no próprio Estado”, acrescenta.
Privilegiada pela natureza, a Bahia possui praias para todos os gostos. Só a Baía de Todos os Santos, a maior do Brasil, conta com uma superfície de 1.100 km2 e 55 ilhas, algumas delas ainda com a sua vegetação intocada. Segundo levantamento da Bahiatursa, 30% dos usuários de hotéis em Salvador, que têm suas viagens motivadas por razões de trabalho, sempre conseguem dar uma esticadinha por mais um ou dois dias para fazer turismo na cidade.
Crescimento
Nos primeiros sete meses de 93, a indústria baiana cresceu 13,5%, puxada especialmente pela petroquímica e a de matérias plásticas, com respectivamente 18,7% e 412%. Os dados fazem parte de um estudo da Secretaria da Indústria, Comércio e Turismo, e revelam ainda que, em 92, enquanto o País teve o parque industrial encolhido em 4,1%, a indústria baiana de transformação (petroquímica, metalurgia, alimentos, bebidas e papel) apresentou crescimento de 5,8%.
No geral, os produtos químicos que respondem por quase 50% do valor da produção industrial baiana cresceram 13%. A indústria de papel e papelão (inclusive celulose) mais que duplicou sua produção, ao passo que a indústria de produtos alimentares apresentou crescimento de 19,9% no período.
A única exceção, dentre os gêneros significativos, ficou por conta da indústria metalúrgica, com 0,3%. Há uma projeção de crescimento para 94 de mais 6,7% no complexo industrial como um todo. O refino de petróleo, que se constitui no outro segmento importante da Bahia, não sofreu alterações no seu nível de produção.
O segmento de papel e celulose teve um crescimento de 128% no ano passado, e em mais 114% nos dez meses de 93. A metalurgia, que havia apresentado um crescimento de 9%em 92, vem enfrentando problemas na área de comercialização (queda de preços no mercado internacional e aumento da competição no mercado interno, por conta da abertura comercial), fator que levou a sucessivas quedas de produção, a partir sobretudo de setembro do ano passado.
Salvador voa mais
A industrialização acelerada levou a Bahia a um processo de urbanização nunca visto na história do Nordeste. O Polo Petroquímico de Camaçari, embrião dessa mudança radical, permitiu, através dos empregos criados, o surgimento de uma nova classe média e um operariado urbano que constitui um expressivo mercado de consumo.
Salvador, que hoje concentra 2,5 milhões dos 12 milhões de habitantes do Estado, foi quem mais lucrou. Hoje, além de exibir com orgulho a História do Brasil, retratada por casarios, museus, mosteiros, 365 igrejas (o baiano costuma citar que é uma igreja para cada dia do ano), as marcas e os segredos de uma civilização mestiça e mágica, a capital baiana tem uma face moderna traçada na expansão do novo conjunto arquitetônico ao longo dos últimos 30 anos.
São edifícios produzidos sem agredir a paisagem colonial da Bahia e que chama a atenção pela forma geométrica e as cores fortes, como a Sede da Associação Comercial e os shoppings centers (são oito ao todo). O empresário Mamede Paes Mendonça, 77 anos, deu forte contribuição para isso, através da expansão da sua cadeira de supermercados, que emprega 19 mil funcionários, vende 31 mil produtos diferentes e domina até mesmo fatias luxuosas do mercado, sendo a quarta rede de supermercados do Brasil.
Salvador tem a maior renda per capita do Nordeste. Um levantamento recente diz que os empregados do Polo Petroquímico têm um salário médio de US$ 1.118. Ganha-se mais ali do que em algumas indústrias do ABC paulista. Muitos deles filhos de lavradores pobres, os operários do polo chegam para trabalhar em ônibus que os apanham em casa, fazem as refeições em refeitórios equipados com ar-condicionado e, em boa parte das empresas, dispõem de um serviço médico próprio – o que significa que ficaram livres das filas do INPS.
“Não podemos deixar de admitir que temos uma situação privilegiada”, diz o eletricista Manoel Nunes da Silva, 34 anos, que tem um salário de US$ 800 dólares, e que costuma levar a família para se divertir nos clubes mais equipados da orla marítima de Salvador.
Estudos do Governo Federal revelam que mesmo nos anos 80, considerada a década perdida, a Bahia manteve seu crescimento. Os principais segmentos de sua estrutura produtiva puderam reagir à estagnação do mercado interno através de uma drástica virada para o mercado externo.
Portão do Mercosul
Se não bastasse a condição de ser a “Terra do Descobrimento”, o 6º Estado no ranking nacional, a segunda maior porta de entrada de turistas estrangeiros, a Bahia é, também, portão de entrada do Mercosul no Nordeste. Com os ventos da integração, o Estado se insere num mercado de US$ 500 bilhões por ano, atingindo 250 milhões de consumidores.
Segundo dados do Governo Estadual, somente no primeiro semestre do ano passado as exportações baianas para a Argentina cresceram 109%, o que demonstra, segundo Paulo Souto, ser o mercado a chave para a expansão dos negócios na região.
A Bahia do Mercosul atraiu a Argentina como o terceiro maior parceiro comercial. Os argentinos importam cacau, café, guloseimas, camarão, frutas tropicais, suco de frutas, palmito, chocolate, abacaxi em lata, especiarias (principalmente orégano), limão-taiti, mamão e abacaxi in natura. Também compram da Bahia materiais de construção, químicos e petroquímicos, e, no setor têxtil, confecções e roupas íntimas.
A Argentina, na Bahia, foi transformada no parceiro preferencial de negócios e os empresários aprenderam facilmente os caminhos do Mercosul, graças a uma campanha coordenada pelo Governo do Estado, que já realizou a 1ª Semana da Argentina na Bahia, e evento de igual porte em Buenos Aires. Os eventos ajudaram a estreitar as relações comerciais. Mais do que vender e comprar produtos, as feiras servem também para viabilizar alianças empresariais, como promoção de investimentos, transferências de tecnologia, formação de joint-ventures e empresas binacionais.
“O fortalecimento do comércio baiano com o Mercosul, hoje, é fundamental para a economia brasileira como um todo, e a sua relação com os grandes blocos internacionais”, atesta o presidente da Federação das Indústrias da Bahia, José Mascarenhas.
Jornalista Magno Martins
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