Pandemia: impactos psicológicos e ocupacionais causados nos profissionais de saúde.
Sem exceção, os profissionais de saúde demostram grande temor de contaminação ao lidar com o enfrenamento da pandemia. — Foto/Reprodução/SILVIO AVILA/AFP/JC.
Pandemia: impactos psicológicos e ocupacionais causados nos profissionais de saúde.
Fonte: Scielo — Publicado no CN em 01.jul.2020.
Fonte: Scielo — Publicado no CN em 01.jul.2020.
Ministério da Saúde | Impactos psicológicos e ocupacionais das sucessivas ondas recentes de pandemias em profissionais da saúde: revisão integrativa e lições aprendidas.
Sucessivas ondas de pandemias podem impactar a saúde mental dos profissionais da saúde. Nesse sentido, este estudo objetivou apresentar evidências científicas sobre fatores associados ao impacto ocupacional e psicológico provocado por elas sobre os profissionais da saúde. Após realizada uma revisão integrativa da literatura com buscas em cinco bases de dados, nove artigos foram incluídos neste estudo. O principal impacto explorado nos artigos é que as situações de pandemias guardam relação com quadros de estresse, ansiedade, insônia e sintomatologia depressiva nos profissionais que estão na linha de frente do cuidado. As condições de trabalho e as próprias características dos sucessivos fluxos globais de pandemias revelam desafios de pesquisas de ordem conceitual e empírica. Novos processos institucionais são necessários para otimizar benefícios em termos de saúde mental e prover o enfrentamento das situações-problema. Aprender com as ondas anteriores de pandemias é um passo importante na definição de uma agenda para futuras pesquisas.
Uma característica marcante dos últimos surtos de pandemias têm sido as múltiplas ondas de infecções (Mummert, Weiss, Long, Amigó, & Wan, 2013). No entanto, não são totalmente conhecidos os mecanismos responsáveis por esse padrão de sucessivas ondas de influenza ou de outras doenças infecciosas agudas. Nos primeiros meses de 2020, surtos relacionados a um novo vírus respiratório foram documentados no mundo todo. A Organização Mundial da Saúde nomeou oficialmente a doença causada pelo novo Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (SARS-CoV-2, Coronavírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave 2) como Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) e declarou o surto mundial em curso no primeiro semestre de 2020 como uma emergência global de saúde pública (Wang, Wang, Ye, & Liu, 2020).
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Atualmente, a pesquisa sobre o SARS-CoV-2 ainda se encontra em estágio inicial. Há pouco conhecimento sistematizado sobre a epidemiologia, características clínicas, diagnóstico, tratamento e prevenção da COVID-19, o que aumenta a insegurança dos trabalhadores de saúde que estão diretamente expostos, devido ao contato com indivíduos infectados (Wang et al., 2020). O SARS-CoV-2 apresenta características específicas (estrutura genética e mecanismos patogênicos) que impõem grandes desafios para a prevenção e tratamento da infecção, o que pode impactar diretamente a saúde mental dos profissionais que cuidam das pessoas infectadas. A forma grave de apresentação da COVID-19 cursa com síndrome respiratória aguda grave. Os pacientes que desenvolvem essa forma podem evoluir rapidamente a óbito (Wang et al., 2020).
Enquanto o mecanismo específico do vírus permanece desconhecido e medicamentos eficazes para a doença não são descobertos, o acesso a informações qualificadas por meio de uma revisão integrativa da literatura pode ser uma maneira de os profissionais de saúde se protegerem dessa ameaça sem precedentes na história da humanidade (Wang et al., 2020). Os problemas com que a área da saúde pública tem se deparado, ao se confrontar com os múltiplos desafios deflagrados pelo surto da COVID-19, não têm paralelo na história (del Rio & Malani, 2020). Do ponto de vista do impacto psicossocial, a situação de emergência mundial exige esforços, compreensão e engajamento de toda a população para evitar a disseminação do vírus, assim como é necessário contar com a extrema dedicação dos profissionais de saúde que estão na linha de frente da batalha contra o avanço da COVID-19 (Mummert et al., 2013). Considerando o turbulento cenário contemporâneo, este artigo revisa criticamente a literatura sobre fatores associados ao impacto psicológico e ocupacional das recentes e sucessivas ondas de pandemias em profissionais de saúde.
Este estudo permitiu constatar que existem fortes evidências disponíveis na literatura científica sobre os fatores associados ao impacto ocupacional e psicológico em profissionais de saúde que vivenciaram situações de pandemias. Foram reveladas implicações para o campo da psicologia, na medida em que se verificaram os impactos psicológicos das experiências de profissionais nos serviços de saúde durante as situações de pandemias. Esses profissionais podem ter sua vulnerabilidade aumentada e apresentar quadros de estresse, depressão e insônia. Entidades de classe devem se preocupar em como oferecer cuidados de saúde mental para essas pessoas, de modo a minimizar seus sofrimentos. Espera-se que experiências exitosas possam ser relatadas posteriormente para que se criem referências para as práticas psicológicas.
Por fim, salienta-se que os resultados apresentados nesta revisão devem ser interpretados à luz de suas duas principais limitações. Primeiramente, o pequeno número de estudos incluídos pode ser resultado das estratégias de busca empreendidas. Outras revisões podem incluir outras bases de dados e outros descritores. Em segundo lugar, observou-se que os artigos revisados são resultados de pesquisas transversais, aspecto que obsta a generalização e restringe a aplicabilidade para outros contextos, ao impedir que o pesquisador precise a direção da causalidade. Estudos longitudinais podem minimizar essa limitação.
Print version ISSN 0103-166XOn-line version ISSN 1982-0275
Estud. psicol. (Campinas) vol.37 Campinas 2020 Epub May 18, 2020
https://doi.org/10.1590/1982-0275202037e200066
SEÇÃO TEMÁTICA: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19.
Acesse a pesquisa na íntegra, aqui.
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