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“Detetives da Covid”: Curitiba tem poucos agentes comunitários de saúde.

 Atuação de agentes comunitários de saúde em Curitiba.Atuação de agentes comunitários de saúde em Curitiba. —  Foto/Reprodução.  


“Detetives da Covid”: Capital do Paraná tem poucos agentes comunitários de saúde. 
Fonte: Gazeta do Povo, Rosana Felix. —  Publicado no  CN em 11.jun.2020.   

Coronavírus —  Entre as 13 maiores cidades da Região Sul do Brasil, Curitiba tem a menor cobertura populacional feita por agentes comunitários de saúde (ACS), profissionais que compõem as equipes de atenção básica e têm contato direto com a população. Pelos dados mais recentes disponíveis no Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde (MS), em abril a capital paranaense tinha apenas 389 ACS, o que permite um monitoramento estimado de 223,6 mil pessoas, o equivalente a apenas 11,6% da população. Porto Alegre aparece com cobertura de 25,9% da população e Florianópolis, com 39%.

Para a cientista Marcia Castro, demógrafa e uma das chefes de departamento na Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos, os ACS poderiam agir como “detetives Covid-19”, que rastreiam os casos positivos de coronavírus e agem para conter o avanço da transmissão. Em seminário realizado dia 14 de maio na Câmara dos Deputados, organizado pela Comissão Externa destinada a acompanhar ações de vigilância contra a Covid-19 e possíveis consequências para o Brasil, ela contou que uma rede de voluntários está fazendo isso em Boston. No Brasil, voluntários também fazem esse trabalho, e associações sem fins lucrativos pretendem disseminar práticas similares para monitorar o contágio pelo coronavírus.

“Pois bem, o Brasil já tem esses detetives: são os agentes comunitários de saúde, que fazem parte dos times da Estratégia Saúde da Família. Eles trabalham na comunidade onde moram. Eles têm a confiança da população que atendem. Eles sabem onde moram os idosos. Eles sabem onde moram as pessoas que têm comorbidades que são de alto risco para a Covid-19. Eles sabem quais são as áreas mais vulneráveis, a exemplo das áreas em que não há acesso à água e, portanto, não se pode exercer a primeira recomendação de prevenção contra o coronavírus, que é lavar as mãos com água e sabão por 20 segundos. Eles sabem quais são as áreas onde o distanciamento social não pode ser exercido, por causa das desigualdades”, disse ela, resumindo a proximidade e amizade que os ACS conseguem fazer onde atuam.

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O problema, apontou ela, é que o papel dos ACS durante a pandemia no Brasil está sendo “o mínimo”, porque o protocolo do Ministério da Saúde foca a atenção clínica nas unidades de saúde. Em alguns municípios, diz ela, a gestão local está providenciando o trabalho ativo dos ACS, mas não há uma ação homogênea. Ela vê dois tipos de atuação para esses profissionais: realizar busca ativa de idosos e de indivíduos com comorbidades associadas à mortalidade por Covid-19, bem como mapear as áreas mais vulneráveis; e rastrear os contatos das pessoas que testam positivo para a doença, ou daquelas hospitalizadas como casos suspeitos, e colocar em quarentena ou realizar testes. Para a pesquisadora, o trabalho dos ACS é fundamental com o relaxamento do isolamento social e reabertura do comércio.

Saúde na porta de casa
Agentes comunitários de saúde fazem parte das equipes de Saúde da Família e têm o papel de visitar os moradores para levar as demandas às unidades de atendimento. Veja a cobertura nas maiores cidades do Sul:

Cidade, Nº de agentes População coberta (estimativa)

Curitiba (PR) - 1.933.105 hab 389 223.675 12%
Porto Alegre (RS) - 1.483.771 hab 668 384.100 26%
Joinville (SC) - 590.466 hab 436 250.700 42%
Londrina (PR) - 569.733 hab 213 122.475 22%
Caxias do Sul (RS) 510.906 hab 168 96.600 19%
Florianópolis (SC) 500.973 hab 341 196.075 39%
Maringá (PR)  423.666 hab 333 191.475 45%
Blumenau (SC) 357.199 hab 253 145.475 41%
Ponta Grossa (PR) 351.736 hab 297 170.775 49%
Canoas (RS) 346.616 hab 317 182.275 53%
Pelotas (RS) 342.405 hab 328 188.600 55%
Cascavel (PR) 328.454 hab 209 120.175 37%
São José dos Pinhais (PR) 323.340 hab 172 98.900 31%

Fonte: Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS)/MS. Mais infográficos

Curitiba contratou em maio, mas ainda é insuficiente
Os números de ACS disponíveis no MS não consideram a contratação de 146 agentes pela prefeitura de Curitiba no início de maio. Mesmo com esse acréscimo, a cobertura populacional na cidade fica em 15,9%, bem abaixo do que as outras grandes cidades da Região Sul. A contabilidade do MS considera que cada agente deve ser responsável por 575 pessoas.

“Mesmo com essa contratação, a defasagem é muito grande. Chegamos a ter 1.200 agentes de saúde na cidade, fazendo esse trabalho de de entrar na casa das pessoas, escutar o que o paciente precisa e levar a demanda para a unidade de saúde”, afirma a presidente do Sindicato dos ACS do Paraná (Sindacs-PR), Ondna Rodrigues Macedo. Na pandemia, uma determinação do MS restringiu a ação dos ACS para a área peridomiciliar (frente, lados e fundo do quintal ou terreno), com distanciamento e uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

Segundo Ondna, muitos agentes estão afastados, ou fazendo home office, por se enquadrarem no grupo de risco para a Covid-19. “Os EPIs não estão totalmente de acordo. Pessoal tem reclamado que nem todos recebem, os que estão em campo”, afirmou. Outro problema, diz ela, é o desvio de função. “O agente fica dentro da unidade, atendendo administrativo, fazendo recepção. O sindicato batalha para que isso não aconteça, mas existe pressão, as pessoas ficam acuadas”, acrescentou.

Estratégia Saúde da Família
Os ACS compõem as equipes das estratégias de Atenção Básica e Saúde da Família, que contam ainda com médicos, enfermeiro e dentista. Segundo o médico de família Francisco Carlos Mouzinho de Oliveira, que é professor na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e também atua em uma unidade de saúde em Curitiba, a atenção básica consegue resolver de 80% a 90% dos problemas de saúde na população, sem necessidade de hospitalização. “Estamos vendo que os países em que a atenção primária à saúde é de qualidade conseguem levar melhor a situação do coronavírus, independentemente de não termos ainda vacina ou medicamento”, observa.

Segundo Oliveira, o papel do ACS é fundamental, como um “informante” das condições de vida da população. “Ele que vai falar para a equipe de saúde o melhor dia para fazer visita, como estão as condições de segurança e tem uma disponibilidade maior para ir à casa das pessoas do que outros profissionais da equipe. Por isso muitas vezes são responsáveis diretos pelo tratamento, explicando a pessoas analfabetas como tomar remédios, lembrar dos horários”, relata. O professor defende a importância de “empoderar” o agente, para a equipe de Saúde de Família obter mais resultados. “Na unidade que atuo, a gente tem feito vídeos. A agente, com ajuda do filho, edita o vídeo, e dá algumas dicas importantes de como conversar com aquela comunidade. Ela conhece bem o público, é imprescindível”, completa.

Prefeitura segue diretriz do Ministério da Saúde
Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a superintendente de Gestão em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, Flávia Quadros, respondeu que há EPIs para ACS e que são seguidas as recomendações do Ministério da Saúde. As visitas de ACS às residências estão restritas a casos essenciais, afirmou, e os demais acompanhamentos são realizados por telefone.

Segundo Flávia, a pandemia exigiu reestruturação do processo de trabalho na Atenção Primária à Saúde (APS), “desde estabelecimento de novos fluxos de acesso e atendimento até a implantação de novas estratégias de cuidado para proteger aqueles que mais precisam”. Com a reorganização, algumas unidades de saúde foram remanejadas. “Gestantes, puérperas, crianças e outros grupos prioritários permanecem sob vigilância das equipes com monitoramento periódico. Para os sintomáticos respiratórios o atendimento é imediato, no setor de sintomáticos respiratórios da unidade básica de saúde”, afirmou.

A gestora acrescentou que desde o início da pandemia, “a preocupação foi garantir o acesso da população ao atendimento, elaborar protocolos técnicos, adquirir EPIs, realizar treinamentos visando a proteção dos profissionais de saúde”. Segundo ela, as equipes de atenção primária têm o desafio diário de “compreender a evolução da doença, apresentar respostas de maneira rápida e resolutiva e assim minimizar os impactos da epidemia”.




Atenção! 
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*COVID-19: Monitoramento dos casos de infecção de ACS/ACE 


VÍDEO EM DESTAQUE:


Secretária de saúde de Caicó, Déboa Costa faz as declarações que provocaram indignação nacional dos agentes de saúde. Assista ao vídeo acima!  



Médicos voluntários do Projeto Missão Covid atendem pessoas com suspeita da doença ou com dúvidas sobre o novo coronavírus. 





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