Médico contesta eficiência do isolamento em ato público e é contestado por professor do Departamento de Filosofia da Ufes
Infectologista Aloísio Falqueto participou de uma manifestação e criticou o isolamento total. — Foto/Reprodução Leonardo Bicalho/Tribuna Online.
Médico contesta eficiência do isolamento em ato público e é contestado por professor do Departamento de Filosofia da Ufes
Um vídeo que começou a circular nas redes sociais na segunda-feira (4), no qual o médico e professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Aloízio Falqueto, garante que não existem provas científicas de que o isolamento total impede a transmissão do Coronavírus, tem causado indignação e pedidos de um posicionamento mais incisivo da universidade. A afirmação foi feita em um ato público pela reabertura do comércio e pró-Bolsonaro convocado pelos movimentos de direita do Estado, realizado no domingo (3), na Prainha, em Vila Velha.
De cima de um trio elétrico, Dr. Falqueto disse que "essa é a verdade e ponto final", e ainda defendeu o uso de hidroxicloroquina e que, ao contrário do que a mídia divulga, "já chegamos ao topo da pandemia, agora vai descer ladeira abaixo".
O professor do Departamento de Filosofia da Ufes, Maurício Abdalla, é uma das pessoas que acreditam que a instituição de ensino deveria se posicionar de maneira mais explícita sobre as declarações. A nota divulgada na última segunda (4) pela Administração Central da Universidade foi considerada genérica por Maurício, pois nem ao menos cita o nome de Aloízio Falqueto.
Maurício explica que uma nota indireta perde capacidade de esclarecimento, de contraposição à fala do médico, já que esta foi feita em um vídeo, em linguagem popular. Assim, segundo Maurício, acaba tendo mais capilaridade nas mídias sociais do que a nota. Ele acrescenta que o fato de o posicionamento da Ufes ser indireto pode gerar questionamentos em relação a sobre a qual situação, de fato, a universidade está se referindo.
Na nota, a Ufes declara que "diante de informações inverídicas e sem amparo científico que circulam nas redes sociais", reitera sua "posição em defesa do isolamento social como medida para preservar vidas e proteger a população contra a disseminação do novo Coronavírus".
A instituição de ensino também afirma lamentar que "o nome da Universidade seja usado para disseminar inverdades e tumultuar o já sensível processo de gestão de uma pandemia que ameaça a vida das pessoas e a economia de diversas nações". Além disso, destaca que as decisões da universidade, como a suspensão das aulas, são "amparadas em fontes científicas que gozam de credibilidade e nas recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e das autoridades estaduais e municipais".
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O professor do Departamento de Matemática da Ufes e integrante da Sala de Situação de Emergência em Saúde Pública do Governo do Estado, Etereldes Gonçalves Júnior, aponta que as afirmações do médico e professor Aloízio Falqueto não têm lógica, não precisando "ser muito cientista para contrapor". "Ele disse que não há evidências de que o isolamento faz diferença na propagação, mas ao mesmo tempo defende o isolamento vertical. Se, para ele, o isolamento não serve, para que adotar o isolamento vertical?", questiona.
Etereldes contrapõe Aloízio Falqueto e enfatiza que o isolamento reduz a interação social, fazendo com que a velocidade da infecção diminua. "É bobagem dizer que o isolamento vertical funciona. Utilizaram essa estratégia na Itália e na Suécia, mas não deu certo. Não há nenhuma evidência no mundo que corrobore com isso", conta Etereldes, que aponta a reabertura do shopping em Blumenau, Santa Catarina, como um dos exemplos de aumento de interação e consequente aumento da velocidade de transmissão do vírus.
Segundo Etereldes, se a interação social aumentar em 10%, diante da taxa de letalidade do Espírito Santo, que é de cerca de 3%, as mortes podem aumentar em 30%. Caso o Espírito Santo chegue a uma taxa de letalidade de 7%, que é a nacional, as mortes podem se elevar em 90%.
Ele informa que os pesquisadores da Sala de Situação irão analisar dados para estudar o impacto das aglomerações no aumento do contágio em diversas localidades do Espírito Santo, possibilitando ações específicas para determinados lugares, como intensificação das ações de conscientização. Os dados serão três, segundo o pesquisador. Um é a partir das denúncias de aglomeração feitas por populares para a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp).
A segunda fonte de dados é baseada na circulação por aparelho de celular. Para isso, os pesquisadores contarão com auxílio das empresas de telefonia, que irão informar em quais locais houve maior aumento de circulação, desde a pré-pandemia até a atualidade. A terceira fonte de dados é georreferenciamento, ou seja, os locais onde estão concentrados os casos.
Assista ao vídeo com a fala do médico Aloízio Falqueto.
De cima de um trio elétrico, Dr. Falqueto disse que "essa é a verdade e ponto final", e ainda defendeu o uso de hidroxicloroquina e que, ao contrário do que a mídia divulga, "já chegamos ao topo da pandemia, agora vai descer ladeira abaixo".
O professor do Departamento de Filosofia da Ufes, Maurício Abdalla, é uma das pessoas que acreditam que a instituição de ensino deveria se posicionar de maneira mais explícita sobre as declarações. A nota divulgada na última segunda (4) pela Administração Central da Universidade foi considerada genérica por Maurício, pois nem ao menos cita o nome de Aloízio Falqueto.
Maurício explica que uma nota indireta perde capacidade de esclarecimento, de contraposição à fala do médico, já que esta foi feita em um vídeo, em linguagem popular. Assim, segundo Maurício, acaba tendo mais capilaridade nas mídias sociais do que a nota. Ele acrescenta que o fato de o posicionamento da Ufes ser indireto pode gerar questionamentos em relação a sobre a qual situação, de fato, a universidade está se referindo.
Departamento de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). — Foto/Reprodução.
Na nota, a Ufes declara que "diante de informações inverídicas e sem amparo científico que circulam nas redes sociais", reitera sua "posição em defesa do isolamento social como medida para preservar vidas e proteger a população contra a disseminação do novo Coronavírus".
A instituição de ensino também afirma lamentar que "o nome da Universidade seja usado para disseminar inverdades e tumultuar o já sensível processo de gestão de uma pandemia que ameaça a vida das pessoas e a economia de diversas nações". Além disso, destaca que as decisões da universidade, como a suspensão das aulas, são "amparadas em fontes científicas que gozam de credibilidade e nas recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e das autoridades estaduais e municipais".
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O professor do Departamento de Matemática da Ufes e integrante da Sala de Situação de Emergência em Saúde Pública do Governo do Estado, Etereldes Gonçalves Júnior, aponta que as afirmações do médico e professor Aloízio Falqueto não têm lógica, não precisando "ser muito cientista para contrapor". "Ele disse que não há evidências de que o isolamento faz diferença na propagação, mas ao mesmo tempo defende o isolamento vertical. Se, para ele, o isolamento não serve, para que adotar o isolamento vertical?", questiona.
Etereldes contrapõe Aloízio Falqueto e enfatiza que o isolamento reduz a interação social, fazendo com que a velocidade da infecção diminua. "É bobagem dizer que o isolamento vertical funciona. Utilizaram essa estratégia na Itália e na Suécia, mas não deu certo. Não há nenhuma evidência no mundo que corrobore com isso", conta Etereldes, que aponta a reabertura do shopping em Blumenau, Santa Catarina, como um dos exemplos de aumento de interação e consequente aumento da velocidade de transmissão do vírus.
Segundo Etereldes, se a interação social aumentar em 10%, diante da taxa de letalidade do Espírito Santo, que é de cerca de 3%, as mortes podem aumentar em 30%. Caso o Espírito Santo chegue a uma taxa de letalidade de 7%, que é a nacional, as mortes podem se elevar em 90%.
Ele informa que os pesquisadores da Sala de Situação irão analisar dados para estudar o impacto das aglomerações no aumento do contágio em diversas localidades do Espírito Santo, possibilitando ações específicas para determinados lugares, como intensificação das ações de conscientização. Os dados serão três, segundo o pesquisador. Um é a partir das denúncias de aglomeração feitas por populares para a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp).
A segunda fonte de dados é baseada na circulação por aparelho de celular. Para isso, os pesquisadores contarão com auxílio das empresas de telefonia, que irão informar em quais locais houve maior aumento de circulação, desde a pré-pandemia até a atualidade. A terceira fonte de dados é georreferenciamento, ou seja, os locais onde estão concentrados os casos.
Assista ao vídeo com a fala do médico Aloízio Falqueto.
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